quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Jornal Administrador Profissional: Ensino corporativo está em fase de crescimento


As universidades corporativas devem ocupar cada vez mais lugar de destaque na formação dos profissionais.

Nos Estados Unidos, daqui a dez anos elas já estarão formando mais pessoas do que as universidades tradicionais. Por isso, novas tecnologias de ensino são cada vez mais necessárias. Esta é a avaliação do professor Michael Litto, especialista no assunto e coordenador da Escola do Futuro da USP.

Litto e Marisa Éboli (Fotos), professora da FEA-USP, apresentaram palestra no CRA-SP

Foi-se o tempo em que as empresas precisavam transmitir conhecimentos a todos seus níveis hierárquicos através de manuais, circulares, ofícios, memorandos e comunicados internos.

Hoje, o tempo é de mudanças rápidas e as empresas precisam gerar conhecimento cada vez mais rápido.

Afinal, com todas as mudanças tecnológicas que ocorrem em uma velocidade estonteante não há mais tempo para perder tempo.

Por isso, não é mais possível, nem produtivo, que poucas pessoas sejam encarregadas de passar uma nova estratégia para todos os colaboradores de uma corporação. "Há algum tempo o maior engolia o menor. Hoje, o mais rápido engole o mais lento", afirma a professora da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, Marisa Éboli.

Para ela, vivemos na economia do conhecimento e é preciso gerar novos conhecimentos e fazer novas conexões com os conhecimentos já existentes.

Por isso, as universidades corporativas devem ter um crescimento muito grande nos próximos anos.

Competência crítica

A professora diz que a universidade corporativa vai, inclusive, mudar de definição. "Ela deixa de ser um centro de custos e passa a ser um centro de fornecimento de ativos humanos e de competências", diz.

"Nos EUA, por exemplo, a universidade corporativa mais famosa, a Universidade do Hambúrguer, do Mc. Donald´s, não ensina a vender mais Big Macs, mas ensina vender segurança para a família quanto ao alimento consumido". O Mc. Donald´s é um alimento padronizado em todo o mundo e com isso consegue garantir a segurança de quem está na loja consumindo um sanduíche.

Marisa afirma que a missão da universidade corporativa é formar e desenvolver talentos voltados para o negócio e seu principal objetivo é desenvolver competências empresariais e humanas.

Ainda falando da realidade norte-americana, a professora salienta que lá existiam, há três anos, 1.600 universidades corporativas. Hoje, há 2 mil e a expectativa é que no ano 2010 as universidades corporativas formem mais pessoas do que as universidades tradicionais, acrescenta.

Novos talentos

No Brasil as universidades corporativas começaram em épocas diferentes e cada uma delas se encontra num estágio diferente. Algumas ainda se preocupam, exclusivamente em ensinar novas tecnologias. Outras já estão voltadas para desenvolvimento de talentos, analisa Marisa Éboli.

"Ensinar tecnologia é importante, sem dúvida, mas a grande necessidade é desenvolver competências e ter um ambiente que possibilite ao indivíduo exercitar essa competência", explica ela.

Segundo ela, esse processo de mudança de enfoque é bastante natural. "Antes, o departamento de Treinamento e Desenvolvimento de uma companhia se pautava pelo cargo. Hoje, a pauta é dada pela competência", afirma.

De acordo com Marisa Éboli, as empresas precisam obter capacidade de competir no mercado e o indivíduo precisa adquirir a capacidade de agregar valor à companhia. "Por isso, cada vez menos importa o sistema utilizado para treinar, o que interessa é a qualificação das pessoas", diz.

"O processo de aprendizagem é cada vez mais centrado no aluno. Hoje, se fala em desenvolver competências humanas, de ética, de capacidade de aprendizado contínuo".

Desenvolvendo talentos

Para Marisa, as universidades corporativas no Brasil estão cada vez mais preocupadas em competências críticas. "Na Unimed, por exemplo, a preocupação é disseminar a cultura do cooperativismo entre os médicos. Já o grupo Odebrecht achou importante dar uma formação financeira para seus colaboradores. Atingiu esse objetivo - cada um de seus funcionários treinados se tornou um expert em finanças. Com isso, vários bancos começaram a 'roubar' funcionários da construtora".

Marisa afirma que ainda há uma certa resistência ao uso da educação a distância para o treinamento, mas as universidades corporativas que mais têm sucesso usam recursos de ensino não presencial.

Marisa crê que, será cada vez mais comum o uso de várias tecnologias diferentes para o ensino. "A 'geração Nintendo' está ingressando no mercado de trabalho. Estudos indicam que essa geração sofre de falta de atenção crônica - a maioria não consegue ler um livro sem se dispersar. Será preciso ensiná-los a aprender e utilizar várias ferramentas para atingir este objetivo". A professora afirma que com isso, o próprio sistema de avaliação dos treinamentos vai ter que ser reformulado. "Será preciso criar um sistema de avaliação de interatividade, que fuja dos tradicionais 'horas de curso x número de pessoas treinadas'. Essa mudança de paradigma deve trazer consigo a cultura da competência e do resultado. Afinal, hoje não é possível pensar em um sistema de educação que não incorpore tecnologia".

Saliva do professor

O professor Michael Litto, coordenador da Escola da Futuro da USP, concorda com a opinião da professora Marisa Éboli.
Para ele, a educação no Brasil, seja na área de escolas tradicionais, seja em termos de educação corporativa, passa por um momento de transformação. "A Tecnologia Educacional é uma área de conhecimento atrofiada no Brasil. Estava mais desenvolvida na década de 60 do que hoje. Por uma série de razões, as faculdades de educação no País, conscientemente ou inconscientemente, conseguiram impedir que os futuros professores adquirissem conhecimentos e experiências práticas no manuseio de tecnologia na sala de aula.
Para ele, a sala de aula no Brasil tem como combustível o saliva do professor e o giz que usa: "é exceção e nunca regra, encontrar retroprojetor, projetor de slides, rádio, televisão ou computador com alguma forma de projeção da sua informação numa tela".

O professor salienta que a Educação a Distância vai dar uma mexida geral na educação no mundo todo, e em todos os níveis de aprendizagem, porque as novas tecnologias de comunicação permitem a globalização da oferta e procura de programas educacionais, assim derrubando os muros antigos, criados e mantidos por questões de local geográfico. Isto é, para ele, daqui em diante, instituições educacionais poderão oferecer seus cursos para um público internacional e emitir diplomas que serão reconhecidos pelo mercado - quer dizer, pela reputação na praça (internacional) que a instituição tem como promotora da aprendizagem de alto nível", diz.

Veja a Matéria em: http://www.crasp.com.br/jornal/jornal172/prnc1.html

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